27 outubro 2011

Estresse da mãe afeta o bebê


Segundo a pesquisa, as alterações sofridas pelo feto podem fazer com que a própria criança seja menos capaz de lidar com o estresse mais tarde. Essas alterações foram associadas, por exemplo, a problemas de comportamento e doenças mentais. As conclusões, baseadas em um estudo limitado feito com apenas 25 mulheres e seus filhos - hoje com idades entre 10 e 19 anos -, foram publicadas na revista científica 'Translational Psychiatry'.

É comum ouvir que tudo o que a mãe sente durante a gestação é transmitido ao bebê ainda no útero. A afirmação é correta e, segundo pesquisadores alemães, também serve para o estresse, produzindo efeitos em longo prazo na vida da criança. A afirmação chegou ao público pela equipe da Universidade de Kontanz, na Alemanha, que observou alterações biológicas em um receptor de hormônios associados ao estresse em fetos cujas mães estavam sob tensão intensa - por exemplo, por conviverem com um parceiro violento.
Após a publicação do estudo, os pesquisadores fizeram algumas ressalvas: eles explicam que as circunstâncias das mulheres que participaram desse estudo eram excepcionais, e que a maioria das mulheres grávidas não seria exposta a graus tão altos de estresse durante um período tão longo.

Além disso, a equipe enfatizou também que os resultados não são conclusivos, e que muitos outros fatores, entre eles o ambiente social em que a criança cresceu, podem ter desempenhado um papel nos resultados. O objetivo agora é fazer estudos mais detalhados, acompanhando números maiores de mulheres e crianças para verificar se suas suspeitas serão confirmadas.
Conclusão divide especialistas
A opinião divide a comunidade médica. Comentando o estudo, especialistas brasileiros explicam que ainda que o feto tenha contato direto com a mãe, sua saúde e seu organismo nem sempre são alterados por níveis de estresse seguro. Nesses casos, o ambiente uterino faz com o que feto esteja protegido. “Ele percebe os sentimentos da mãe, inclusive seus momentos de estresse, mas isso não significa que reaja da mesma forma”, explica a Dra. Fátima Ferreira Bortoletti, coordenadora do setor de psicologia obstétrica do departamento de obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Segundo a médica, se a mãe está triste ou estressada, o feto consegue perceber. Ainda que a mãe não fale o que está sentindo, somente ao pensar, o bebê sente. “Em níveis normais de estresse, porém, se não houver uma patologia ou tentativa de aborto, dificilmente isso irá alterar a saúde e o psicológico dessa criança”, considera Fátima. Partilha dessa mesma opinião o Dr. Nicolau D’Amico, ginecologista do Hospital Samaritano. “Estresse e outros sentimentos em níveis considerados normais não afetam o bebê. Se algum episódio desencadear uma reação exagerada da mãe, pode ser que o bebê sofra alguma alteração de comportamento, mas não é possível afirmar como isso aconteceria.”

Estresse positivo x estresse negativo
Por isso, antes de qualquer alarde com relação à pesquisa dos alemães, os médicos dizem que é preciso separar os dois tipos de estresse existentes, o positivo e o negativo. Segundo a Dra. Fátima, o positivo é aquele que nos motiva na vida, como o estresse sentido ao realizar um trabalho que se gosta. O negativo gera um sentimento ruim e desencadeia alterações no organismo.

Para o médico, o estresse positivo ainda pode colaborar na formação do bebê. “Níveis aumentados de estresse, dentro do normal, podem acelerar a maturação cerebral do feto. A mãe produz mais cortisol, um hormônio que ajuda no desenvolvimento do cérebro e de outros órgãos, fazendo com que a criança nasça com um cérebro mais maduro”, explica o Dr. Nicolau. No caso do estresse negativo, o que mais preocupa é a possibilidade de a mãe desenvolver depressão durante a gestação e comprometer os cuidados que o recém-nascido precisa.

Agência Hélice, 
Especial para o Terra

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