Segundo a pesquisa, as alterações sofridas pelo feto podem fazer com que a própria criança seja menos capaz de lidar com o estresse mais tarde. Essas alterações foram associadas, por exemplo, a problemas de comportamento e doenças mentais. As conclusões, baseadas em um estudo limitado feito com apenas 25 mulheres e seus filhos - hoje com idades entre 10 e 19 anos -, foram publicadas na revista científica 'Translational Psychiatry'.
Após a publicação do estudo, os pesquisadores fizeram algumas ressalvas: eles explicam que as circunstâncias das mulheres que participaram desse estudo eram excepcionais, e que a maioria das mulheres grávidas não seria exposta a graus tão altos de estresse durante um período tão longo.
Além disso, a equipe enfatizou também que os resultados não são conclusivos, e que muitos outros fatores, entre eles o ambiente social em que a criança cresceu, podem ter desempenhado um papel nos resultados. O objetivo agora é fazer estudos mais detalhados, acompanhando números maiores de mulheres e crianças para verificar se suas suspeitas serão confirmadas.
Conclusão divide especialistas
A opinião divide a comunidade médica. Comentando o estudo, especialistas brasileiros explicam que ainda que o feto tenha contato direto com a mãe, sua saúde e seu organismo nem sempre são alterados por níveis de estresse seguro. Nesses casos, o ambiente uterino faz com o que feto esteja protegido. “Ele percebe os sentimentos da mãe, inclusive seus momentos de estresse, mas isso não significa que reaja da mesma forma”, explica a Dra. Fátima Ferreira Bortoletti, coordenadora do setor de psicologia obstétrica do departamento de obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo a médica, se a mãe está triste ou estressada, o feto consegue perceber. Ainda que a mãe não fale o que está sentindo, somente ao pensar, o bebê sente. “Em níveis normais de estresse, porém, se não houver uma patologia ou tentativa de aborto, dificilmente isso irá alterar a saúde e o psicológico dessa criança”, considera Fátima. Partilha dessa mesma opinião o Dr. Nicolau D’Amico, ginecologista do Hospital Samaritano. “Estresse e outros sentimentos em níveis considerados normais não afetam o bebê. Se algum episódio desencadear uma reação exagerada da mãe, pode ser que o bebê sofra alguma alteração de comportamento, mas não é possível afirmar como isso aconteceria.”
Estresse positivo x estresse negativo
Por isso, antes de qualquer alarde com relação à pesquisa dos alemães, os médicos dizem que é preciso separar os dois tipos de estresse existentes, o positivo e o negativo. Segundo a Dra. Fátima, o positivo é aquele que nos motiva na vida, como o estresse sentido ao realizar um trabalho que se gosta. O negativo gera um sentimento ruim e desencadeia alterações no organismo.
Para o médico, o estresse positivo ainda pode colaborar na formação do bebê. “Níveis aumentados de estresse, dentro do normal, podem acelerar a maturação cerebral do feto. A mãe produz mais cortisol, um hormônio que ajuda no desenvolvimento do cérebro e de outros órgãos, fazendo com que a criança nasça com um cérebro mais maduro”, explica o Dr. Nicolau. No caso do estresse negativo, o que mais preocupa é a possibilidade de a mãe desenvolver depressão durante a gestação e comprometer os cuidados que o recém-nascido precisa.
Agência Hélice,
Especial para o Terra
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